" A História é êmula do tempo, repositório dos fatos, testemunha do passado, exemplo do presente, advertência do futuro." ( Miguel de Cervantes )

domingo, 29 de janeiro de 2012

68 ANOS DESDE O CERCO DE LENINGRADO

Nas de três fábricas, os russos resistiram a quase 100 dias de ataques alemães, até perceberem que a retaguarda inimiga não sabia lutar


Às 6h da manhã do dia 14 de outubro de 1942, a terra tremeu. Pressionado por Hitler, o general von Paulus ordenara um ataque maciço contra os defensores soviéticos, que obstinadamente ainda resistiam nos destroços da cidade. “Todo o céu ficou coalhado de aviões”, escreveu um soldado alemão da 389ª divisão de infantaria. A Luftwaffe, a força aérea alemã, apenas naquele dia realizou 2 mil vôos de bombardeio. Do lado russo, um oficial do general Chuikov escreveu em seu diário. “O combate assumiu proporções monstruosas. Os homens nas trincheiras tropeçavam e caíam como num convés de navio durante a tempestade.” O oficial russo Dobronin comentou: “Aqueles entre nós que viram o céu escuro de Stalingrado naqueles dias jamais o esquecerão. Era ameaçador e severo, com chamas purpúreas lambendo o céu”. A situação era desesperadora. Desde 12 de setembro, data em que as colunas alemãs chegaram aos subúrbios da cidade, as unidades do 62º exército soviético não haviam feito outra coisa que resistir ao invasor. Agora, dia 14 de outubro, os alemães controlavam 90% da cidade. Seu objetivo era desalojar os defensores dos últimos 200 metros que os separavam das margens do rio Volga. Por sua vez, proibidos por Stálin de cruzar o rio, os soldados soviéticos lutavam freneticamente para manter seus três últimos bastiões: as fábricas de tratores Djerzinski, a fábrica Barrikadi e a metalúrgica Outubro Vermelho.
A batalha prosseguiu durante toda a manhã. Por volta do meio-dia, 200 tanques alemães conseguiram quebrar a linha de defesa soviética. Ainda assim, tropas russas que haviam ficado para trás surgiam do nada e atacaram os efetivos germânicos. A ferocidade russa não conhecia limites. O oficial de artilharia Babachenko, por exemplo, ao se ver cercado, enviou a seguinte mensagem de rádio ao quartel-general. “Canhões destruídos, bateria rendida. Combateremos e não nos entregaremos. Nossas melhores lembranças a todos.”
Na noite de 14 para 15 de outubro, navios de transporte russos cruzaram o Volga levando mais de 3,5 mil feridos. Cerca de 5 mil dos 8mil soldados da 37ª brigada russa foram mortos em ação durante os dez dias da ofensiva. Do lado alemão, batalhões de veteranos originalmente com mais de 150 homens estavam reduzidos a menos de 50. Mas o que mais espantava os nazistas era a inexplicável febre russa em defender a cidade a qualquer custo. “Não entendo” escreveu um piloto da Luftwaffe. “como homens podem sobreviver a tamanho inferno, mas os russos continuam cravados nas ruínas, buracos e porões e no caos de esqueletos de aço que eram as fábricas.”
Finalmente, nos últimos dias de outubro, a falta de munição e a pura exaustão de ambos os lados encerrou o ataque. Stalingrado sangrara, mas ainda não caíra. O inverno estava para chegar. E os soldados alemães cada vez mais se questionavam: o que, afinal de contas, eles estavam fazendo ali?
Tudo começou seis meses antes, em abril de 1942, quando Hitler decidiu mais uma vez apostar alto. No ano anterior, ele havia reunido mais de 3 milhões de soldados para invadir a União Soviética, na chamada Operação Barbarossa. Em seis meses, mais de 4 milhões de soldados jaziam mortos e aproximadamente 3,5 milhões haviam sido feitos prisioneiros. As principais cidades russas estavam ameaçadas ou haviam sido tomadas. Apenas o rigoroso inverno conseguira frear o avanço germânico.
Agora, com a chegada da primavera, o Führer estava decidido a dar o golpe de misericórdia no inimigo, atacando com seus exércitos no front sul. Sua cartada: conquistar os poços de petróleo soviéticos no Cáucaso. Assim, no dia 28 de junho, com temperatura alta e solo seco, os nazistas iniciaram a chamada Operação Blue. Ao todo, marchavam 74 divisões, das quais 54 alemãs. Dentre os aliados, seis divisões húngaras, oito romenas e seis italianas.
Inicialmente, a blitzkrieg (guerra-relâmpago) fora novamente um sucesso. No dia 19 de julho, Hitler sentenciou: “Os russos estão acabados”. Realmente, tudo parecia indicar que 1942 não seria diferente da campanha do ano anterior. Entusiasmado, no dia 23 de julho, Hitler reescreveu os objetivos da Operação Blue. Para incredulidade dos generais alemães, ele decidira aumentar os objetivos inicialmente propostos. O grupo de exército A teria de tomar todo o Cáucaso. E o grupo de exército B não iria apenas destruir as fábricas de armas de Stalingrado, como originalmente pensado. Iria tomar a cidade inteira.
Assim, o longo braço nazista projetou-se para o sul da União Soviética, com o novo objetivo de, com seus dedos, alcançar e esmagar Stalingrado. Porém, quanto mais e melhores tropas eram utilizadas na cruenta luta em torno da cidade, mais e mais os flancos que sustentavam essa rota de ataque eram designados a unidades de segunda linha, isto é, os aliados pobres da Alemanha que também haviam enviado tropas: Itália, Hungria e Romênia.
Isso não passou despercebido a Zhukov, o comandante das tropas russas. E embora Stalingrado fosse diariamente surrada pelo pesado punho nazista, a resistência ali havia se tornado a isca perfeita para manter os alemães ocupados. Os russos então desenvolveram um plano, chamado de Operação Urano. Secretamente, começaram a concentrar tropas nas laterais da rota de ataque alemã.
Até que, finalmente, em 19 de novembro, já em pleno inverno, às 5h, 3,5 mil canhões do Exército Vermelho acordaram os soldados romenos responsáveis pelo flanco norte com uma interrupta tormenta de aço. Após uma hora, os canhões se calaram. Então, um grande grito de “urra” foi ouvido na estepe, e os aterrorizados romenos viram 12 divisões de infantaria, três corpos de tanques e dois corpos de cavalaria emergirem da terra num ataque vigoroso. Em uma semana, numa investida fulminante, os russos haviam batido as tropas romenas e decepado o braço nazista. Isoladas, as tropas alemãs em torno de Stalingrado viam-se elas próprias cercadas. Começou então a longa agonia do sexto exército de von Paulus.






TODAS AS PORTAS BLOQUEADAS





 MORADORES COLAVAM PAPÉIS NAS JANELAS PARA QUE ELAS NÃO QUEBRASSEM COM ONDAS DE CHOQUE

APARELHO USADO PARA CAPTAR SONS DE AVIÕES INIMIGOS



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Durante dezembro e janeiro, os cerca de 300 mil soldados alemães sobreviveram à custa de rações trazidas pela Luftwaffe. Sob uma temperatura de - 40º, padecendo de tifo e diarréia, os soldados foram definhando. A falta de munições era alarmante. Suas esperanças de que as forças nazistas conseguissem romper o cerco e retomar contato se esvaíram de vez quando, em 22 de janeiro de 1943, Hitler lhes endereçou o seguinte comunicado: “Rendição fora de questão. Que as tropas continuem lutando até o fim.”
No dia 2 de fevereiro, porém, 91 mil homens, incluindo 22 generais alemães e o agora marechal-de-campo von Paulus – para desgosto do Führer, que esperava por um suicídio coletivo – se renderam. E, embora em 1943 a Alemanha estivesse longe da derrocada, foi nas estepes congeladas da União Soviética que Hitler viu desmoronar seu mito mais precioso: o de que o exército nazista era invencível.

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